"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração"
(Vinícius de Moraes)
(09/11/2023)
Suponho que quase todos concordam com esses versos do poeta, pois dificilmente alguém se orgulhará de ser mais triste que alegre. A alegria, afinal, "é a melhor coisa que existe", iluminando rostos e corações. No entanto, na estrofe seguinte de "Samba da bênção", Vinicius de Moraes faz uma oposição, que traz uma exceção ao possível padrão de #melhorseralegre: para se fazer um samba, há que se ter "um bocado de tristeza", pois a "tristeza tem sempre uma esperança". Assim, vale refletir: seria a alegria uma escolha? Já que um sentimento (a alegria) é melhor ou mais desejado que o outro (a tristeza), dá pra escolher entre ser alegre ou triste, alternando os dois ao nosso bel prazer?
Neste texto, em particular, gostaria de refletir sobre a alegria, essa virtude tão ansiada, mas ao mesmo tempo tão frágil e suscetível às intempéries que atravessam nossa existência.
A Bíblia ensina que o cristão deve ser alegre (I Ts 5.16), regozijando-se sempre (Fp 4.4), ainda que haja obstáculos a essa alegria, e esse imperativo justifica-se pelo fato de a nossa fonte de alegria ser inesgotável, não advinda de momentos ou circunstâncias: nossa alegria é verdadeira e vem do próprio Deus. Ele é a fonte e a causa da alegria, por isso essa virtude é parte do fruto do Espírito, desenvolvido em nós pelo Espírito Santo, para a glória de Deus (Gl 5.22). Além disso, o reino de Deus é "justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14.17), por isso, quem faz parte desse Reino deve ter essas virtudes em sua vida.
Como se vê, cultivar a alegria é dever; não obstante, constitui-se também um privilégio, pois nossa alegria aponta para a alegria vindoura, superior e eterna, quando estaremos para sempre com o Senhor, usufruindo da alegria que é gozar da comunhão com Deus. Por isso, não basta estar alegre: é preciso cultivar a alegria todos os dias, para amadurecermos nesse quesito. Ter sido alcançados por Jesus, sermos alvos do amor de Deus e cultivarmos a expectativa de morarmos eternamente nos céus são claros motivos que nos impulsionam a viver alegres.
Mas, e a tristeza? Com efeito, a vida é, entre outras coisas, sobre alegrias, tristezas e esperanças, as quais vão se intercalando nos diversos momentos que compõem nossa experiência de vida e nem sempre podemos escolher entre um ou outro: somos, simplesmente, assomados por eles. Quem vive momentos maus, de doença, luto ou dificuldades de qualquer ordem sabe como é difícil manter-se alegre. A canção da alegria revela-se frágil, desafinando diante de situações adversas, quando o sorriso perde espaço para as lágrimas ou para o semblante entristecido. Pode-se pensar em pelo menos dois obstáculos à alegria.
Em primeiro lugar, há o pecado. Ele nos afasta de Deus e rompe, também, nossa alegria. Vemos isso, por exemplo, na história do rei Davi, cujo pecado silenciado enchia de tristeza o seu coração, tornando sua alma seca e seus ossos enfraquecidos (Sl 32.3-4); o mesmo salmo nos mostra, no entanto, que confessar a Deus o seu pecado foi o que restituiu ao salmista a alegria da salvação (Sl 32.5,11). Isso nos ensina que a confissão de nossos erros e falhas ao Senhor é um remédio que combate o pecado e nos traz de volta a alegria.
Como segundo obstáculo à alegria, há o fato de que nem sempre confiamos em Deus. Por vezes, nosso olhar, para se manter alegre, precisa estar centrado em bens materiais, pessoas que amamos ou na vida perfeita que construímos e, quando uma dessas coisinhas falha, vai-se também a nossa alegria. Ora, para que nossa alegria seja inabalável devemos olhar "firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus. Portanto, pensem naquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem" (Hb 12.2-3). Houve, também, dor e sofrimento no caminho de Jesus, mas o Mestre não se importou com a vergonha ou com a cruz que teve de suportar, tampouco se cansou ou desanimou: Ele deixou-nos o exemplo de olhar para Deus nesses momentos.
Somente a intervenção divina pode nos garantir uma alegria independente de circunstâncias, ministrada em nosso coração e cultivada em nossa vida de forma sobrenatural. É melhor ter a alegria do Senhor, mesmo quando um bocado de tristeza nos invade.
Que Ele nos ensine a ser alegres.
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