"Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo…
(em diálogo com o poema "Consoada", de Manuel Bandeira)
Morte. Cinco letras que assustam, mas têm se tornado cada vez mais presentes na vida. Ignorada por alguns, desejada por outros, cantada em verso e prosa, chorada por quem fica, sempre soturna, à busca do próximo: eis a morte. Apesar de Bandeira ter dúvidas quanto à qualificação da chegada dela, não hesita em nomeá-la "Indesejável". E de fato ela o é.
Sendo "dura" ou "caroável", esperando-a ou não, temendo-a ou não, a verdade é que não a desejamos. Ela ignora, no entanto, esse indesejo, e tem andado bem perto, tornando ausentes muitas vidas, algumas próximas outras nem tanto. Essas ausências deixam vazios diversos: a família perde seu provedor; o amigo priva-se de seu irmão de vida; a filha fica sem a mãe; os encontros deixam de ter aquela gostosa gargalhada; nas reuniões familiares, faz-se ausente o tio do "pavê"; anula-se o privilégio de ouvir cantar aquela doce voz. A Indesejável faz-se, cada vez mais, presente.
… Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Pode ser que alguns a recebam sem medo; como o poeta, sabem que ela é iniludível e, mais cedo ou mais tarde, far-se-á presente; portanto, esperam-na com sorriso resignado. Entretanto, quando ela se presentifica, deixa ausências. A terrível ironia da presença gerando a ausência. Metaforizando o dia como vida e a noite como morte, mesmo que a vida tenha sido boa, ao descer a noite, o que restará? Temeremos os sortilégios da escuridão? Temeremos a morte?
… Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar."
Cedo ou tarde, ela virá – e a experiência da pandemia tem mostrado que, ela virá infelizmente, cada vez mais cedo. Como ela encontrará você? Seu campo estará lavrado? Sua casa estará limpa? E a mesa, posta, com cada coisa em seu lugar?
É preciso estar pronto, mas ter esperança precede o estar pronto; do contrário, viveremos numa expectativa infértil. A Bíblia nos fala exatamente disto: esperançar-se, vividamente, em Cristo, mesmo quando perdidos no deserto da desesperança. O apóstolo Paulo, certa vez, disse aos irmãos de Corinto:
"Se nossa esperança em Cristo vale apenas para esta vida, somos os mais dignos de pena em todo o mundo"
(1 Co 15.19).
Esperemos em Cristo, nesta vida e depois dela, compreendendo que Ele morreu para termos vida e que, por este santo sacrifício, Ele mesmo tornou-se nossa ressurreição, gerando-nos para nova esperança. Assim, crendo nEle, ainda que morramos, viveremos.
Somos aqueles que esperam. Mesmo no luto, secando lágrimas, passando pela dor, esperamos. E porque esperamos em Quem esperamos, temos, afinal, o devido consolo.
Para alguns, a morte é o fim; para quem crê em Deus, traduz-se em Vida verdadeira.
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