quinta-feira, 30 de maio de 2024

Consolo na vida

 Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
("Consolo na praia", Carlos Drummond de Andrade)

A etimologia define a palavra consolo como "aliviar" "com", o que nos remete ao ânimo compartilhado, seja diante do sofrimento, seja diante da ausência de expectativa. Os versos de Drummond traduzem isso em certa medida. O "consolo na praia" é executado pela voz lírica a alguém que parece não ter muitos motivos para se alegrar: foi-se a infância e a mocidade, passaram-se os amores… no entanto, permanece a possibilidade de algo animador acontecer, afinal, "o coração continua" e "a vida não se perdeu".

Em geral, não gostamos de ser consolados - não que sejamos antissociais ou autossuficientes, mas porque não somos preparados para aquilo que pode nos tirar o ânimo. Morte, dor, traição, solidão: não fomos criados para essas coisas. Por isso, intuitivamente, nossa convicção é a de que o melhor é não precisarmos viver situações em que o consolo se faça necessário. No entanto, somente quem passou por um desses momentos e foi consolado sabe o valor que o consolo tem. E aqui abre-se um paradoxo: não queremos precisar ser consolados, mas nos alegramos quando o somos.

Quando em situações pesadas, complexas, difíceis, precisamos confiar em algo ou alguém que nos ajude a encontrar alívio. No poema, a voz lírica tenta fazer isso. Na vida real, no entanto, é preciso mais.

Deus é esse mais. Aquele que nos consola quando entristecidos, nos fortalece quando enfraquecidos e nos sustenta mesmo se a fraqueza parece estar prestes a nos consumir. Quando Jesus, certa vez, anunciou aos seus discípulos que iria ao Pai para lhes preparar um lugar, anunciou também que deixaria o Espírito Santo, o Consolador. Esse Consolador é definido como "o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós" (João 14.17).

Temos, pela Palavra de Deus, a certeza de que este Consolador nos acompanhará todos os dias de nossas vidas - e basta olharmos um pouco para a vida que perceberemos como precisamos desse Consolo constante. Nem sempre haverá sorrisos; lágrimas e pranto certamente atravessarão nosso caminho. Amamos os dias ensolarados, mas os dias nublados e de tempestade também existirão. Gostamos das flores brotando em nossos jardins, entretanto, por vezes neles só haverá ervas daninhas ou mesmo a sequidão e o estio. A morte faz parte da vida, assim como a dor, a tristeza, a perda e a solidão. É preciso confiar em Quem é maior que a morte, a dor, a tristeza, a perda e a solidão.

Gosto muito do filme Coração valente, especialmente da cena em que William Wallace, personagem de Mel Gibson, faz um emocionante discurso de incentivo ao povo antes de lutar. Sua voz se ergue como motivação e consolo, e o exército torna-se impelido a lutar corajosamente. Da ficção à realidade, temos em Deus o nosso consolador. Em Isaías 51.12, lemos uma declaração do Senhor para o seu povo que, à época, estava enfrentando lutas e a perseguição de homens maus: "Eu, eu sou aquele que vos consola; quem, pois, és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem, que não passa de erva?". Com uma declaração dessas, não há como temer.

Deus é o nosso consolo. Nele podemos nos refugiar e encontrar segurança, conforto, abrigo e paz. Se em Coração Valente o incentivo motiva o exército a lutar com suas próprias forças, estratégias e possibilidades, em Deus recebemos consolo pela força do Espírito Santo.

Que Ele nos ajude na caminhada.

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