"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."
(Carlos Drummond de Andrade, Quadrilha)
(07/11/2023)
Drummond se superou nesse poema, intitulado Quadrilha, dança popular metaforizada na troca de afeições sem correspondência que vai acontecendo ao longo da vida de João, Teresa, Raimundo, Maria, Joaquim, Lili. Esses personagens vão se alternando em desencontros na primeira estrofe, enquanto o destino deles é apresentado na segunda, onde, também, conhecemos J. Pinto Fernandes, "que não tinha entrado na história".
Esse poema de ares infantis e construção dinâmica fala, na verdade, de um anseio natural do ser humano: amar e ser amado. Mesmo sabendo dos possíveis desencontros que a vida há de proporcionar, prosseguimos nossa jornada buscando esses alvos. Queremos amar. Queremos ser amados.
Mas o amor demonstrado nos versos drummondianos não necessariamente corresponde ao amor que satisfaria nossos anseios. Amar quem não nos ama é dureza; pode nos conduzir a destinos inesperados (um outro país ou o convento) ou nos deixar na solidão.
Que amor, então, devemos buscar?
"O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido."
(Carlos Drummond de Andrade, Amor)
Esses versos também são de autoria de Drummond e iniciam um poema chamado Amor. O poeta começa, como se vê, definindo um sentimento que, essencialmente, fala de relacionamento. Como seres relacionais que somos, criados pelo Deus triúno que nos fez em e para a comunhão, acharemos a resposta a nossos anseios de amar e ser amados quando nos encontrarmos nesse Deus, descrito na Bíblia como "amor" (1 Jo 4.8). Esse Deus que é amor é quem nos ensina a amar e nos permite ser amados.
De tanto nos amar, esse Deus que é amor derrama sobre nós o seu Espírito e este desenvolve em nós o seu fruto.
O fruto do Espírito é descrito em Gálatas cinco, versículos vinte e dois e vinte e três como compreendendo nove aspectos, nove qualidades que frutificam no coração fértil daquele que foi alcançado pelo Deus que é amor. O primeiro desses aspectos é o amor.
Se olharmos para a caracterização do amor que a Escritura nos faz através do apóstolo Paulo, em I Coríntios treze, observaremos que, humanamente, a produção desse amor ser-nos-ia impossível. Observe:
"O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba" (versículos 4-8).
Uau. Parece-me que, certamente, um amor assim seria capaz de suprir meu desejo de amar e ser amada!
No entanto, creia-me: nunca seremos capazes de amar ou receber esse amor, com essas características tão bem desenhadas, contando com a nossa própria capacidade. Apenas o Espírito de Deus pode desenvolvê-lo em nós.
Somente um Deus que é o próprio amor tem poder para isso.
Que Ele nos ajuda e nos faça frutificar essa virtude. E, uma vez tendo o amor em nós frutificado, que amemos a Deus - de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso entendimento - e ao próximo como a nós mesmos (Mateus 22.37-39).
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