quinta-feira, 30 de maio de 2024

Independência ou conformismo?

 

"não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino"
(Paulo Leminski)


(30/08/2023)

Os versos do poeta Paulo Leminski trazem um misto de independência e conformismo. A independência manifesta-se na liberdade de quem decide viver seus dias sem discutir com o destino e vivenciar o que aparecer em sua jornada, sem neuras ou traumas. Por outro lado, há, também, certo conformismo de quem não reage, apenas aceita o que o destino lhe determina, sem experimentar outras possibilidades ou mesmo saber da existência delas.

Isso nos leva a duas formas de pensar no curso da vida, que pode parecer livre e solto, para alguns, ou fatalístico, para outros, a depender do fio que a conduz. A pergunta central deveria ser, então, que fio a conduz. Partindo da certeza da existência de Deus que criou o mundo e tudo o que nele há, interpretações diversas têm sido estabelecidas para se chegar ao tal fio condutor de tudo. Filosoficamente, o deísmo afirma que Deus criou o mundo, mas, como um relojoeiro, deu cordas nele e deixou que os ponteiros girassem sozinhos; ou, dizendo de outra forma, o grande arquiteto do universo não age miraculosamente no mundo, tampouco nas vidas das pessoas, que podem, portanto, seguir seus cursos livres e soltas, no sentido mais rasteiro do que se compreende por livre arbítrio. Mas é possível, também, conceber o mundo de um ponto de vista fatalista; ora pelo determinismo, que indica o que há de ser, a partir de causas diversas que estão postas de modo imutável e, portanto, sem restar a menor chance de escolha; ora pelo fatalismo, segundo o qual o que há de ser será, pois o futuro é inalterável, afinal; sendo assim, só resta, ao homem, aceitar o que lhe vier e assinar o que pintar à sua frente.

Diante desse dualismo, prefiro ficar com a Palavra de Deus, que revela ao que crê a essência de tudo, ou desse Fio, para manter a nomenclatura usada acima. Ela nos diz que somos conectados à videira - que é Jesus -, sendo nós os seus ramos. Um ramo faz parte da árvore e é nutrido por ela, independente de seu tamanho ou formato. Não tem vida própria; antes sua vida está definida exatamente por essa dependência. Um galho solto, largado à beira da estrada, é apenas um galho solto; um ramo agregado à videira é uma árvore.

A Bíblia nos ensina que Deus é quem guia nossa vida, direcionando-nos por onde devemos seguir (Isaías 48.17). Isso significa cuidado amoroso do Deus que nos cerca com Sua providência e que, a todo momento, conduz nossos passos. Deus não deu cordas no relógio chamado mundo e o abandonou à própria sorte, mas o conduz e governa com Sua destra fiel. Não sou livre para fazer o que me der na telha, tampouco condenada a esperar, imovelmente o que virá: sou chamada a viver a vida que Deus preparou para mim, uma vida que tem o caminho iluminado pela luz da Palavra de Deus até que chegue ao destino eterno. Sou livre ao ponto de não precisar me conformar, pois minha mente é renovada, dia após dia, pela Palavra do Senhor, onde conheço o Senhor da Palavra. Isso não significa harmonizar independência ou conformismo, mas viver tendo como centro a Palavra, que é guia, lâmpada, verdade.

Independência ou conformismo? Fico com a centralidade da Palavra.

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