quinta-feira, 30 de maio de 2024

Tarde demais?

 

"E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Por que chegaste tarde, ó meu Amor?! ..."
(Florbela Espanca)

(21/08/2023)

Como passa rapidamente o tempo! Horas, dias, meses, anos vão se amontoando num girar que cada vez parece estar mais rápido. Essa aceleração na qual vivemos - e que quase nos impede de ver o quanto de beleza há em cada segundo que passa -, parece ainda mais intensa e dolorosa para quem espera algo, porque esperar torna visível o tempo que passa - ou que se perde. Uma das acepções da palavra esperar é "aguardar", e aguardar significa deixar de correr tanto e parar um pouco diante do corre-corre para, quase que estaticamente, aguardar. O poema de Florbela Espanca, poetisa portuguesa, intitula-se "Tarde demais", em mais uma referência ao tempo, este que passa tão rápido que algumas vezes esperamos "cem anos" para que algo aconteça. Ao ler esses versos de Florbela, conhecemos uma mulher apaixonada que lamenta a chegada tardia de seu amor.

E você, em meio às correrias de tempos e contratempos, já encontrou o seu amor?

Eu já. E posso garantir que encontrei o Amor perfeito e verdadeiro. Não um amor-sentimento, mas o Amor-Pessoa.

Esse Amor-Pessoa um dia olhou para mim e, quando senti a força desse olhar, nada mais pude fazer a não ser me render. Minhas esperas tiveram fim; as expectativas foram extrapoladas; tudo se fez novo. Olhar pra esse Amor-Pessoa me fez olhar pra mim mesma; pude, então, me ver não apenas na aparência, mas na essência. O Amor-Pessoa me disse quem sou: infinitamente amada, irrevogavelmente perdoada, para todo o sempre adotada. E como me foi especial ter essa visão sobre mim! A brevidade do tempo impulsiona-nos a ser, também, breves em nossas relações, em nossas revelações, no que sentimos ou desejamos construir. Não é mais necessário se revelar, desde que mostremos um pouquinho de quem somos (as redes sociais cumprem bem, afinal, esse papel, mostrando, sobretudo, nosso lado bom, saudável, bonito). O problema é que essa economia nos limita: como pouco preciso revelar, pouco preciso saber de mim. Daí os rótulos me caem bem e são por mim aceitos, seja com pesar ou alegria. "Você é especial!" "Cê tá linda hoje!" "Obrigada por ser minha amiga" "Você sempre fala demais!". Conhecer quem sou pelas lentes desse Amor-Pessoa me fez conhecer minha verdadeira identidade e, sem pressa, desvelo, dia a dia, quem sou porque Ele assim me diz.

Esse Amor-Pessoa não chegou tarde demais, mas no tempo exato. Por isso, em lugar da tristeza ou desatino, comuns a encontros em que os tempos são inesperados, encontrei-me em paz ao ser encontrada por esse Amor. E, ao me ver amada pelo próprio Amor, tive vontade, apenas de me ajoelhar. Estar de pé me dava a falsa impressão de grandeza ou autossuficiência, e eu sabia que essas eram características que não mais possuía. Agora, eu dependia - e era bom me sentir dependente. Ajoelhar-me foi a ação mais natural, porque, também, era a única possível diante do Amor tão grande, tão vivo, tão essencial. Esse Amor-Pessoa não apenas me mostrou quem sou, mas fez isso enquanto me mostrava quem Ele mesmo é. O tempo, com Ele, tem uma passagem diferente, porque é Ele mesmo quem o controla. NEle não importa o antes ou o depois; para mim, o tempo passou a fazer sentido depois que fui encontrada por Ele.

A Bíblia nos apresenta esse Amor-Pessoa: Jesus Cristo, o Filho de Deus que, um dia, veio à terra por amor a nós. Ele transcende o próprio tempo, porque é desde a eternidade. O tempo não o confunde ou altera, pois o que Ele era ontem, é ainda hoje e será para todo o sempre.

Confie: com Ele, nunca será tarde demais.

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